Las 100 compañías más lucrativas del mundo

(Conlas variaciones naturales de siempre)

 

Global 500
  Current view: 1-100  101-200  201-300  301-400  401-500
Rank Company Revenues
($ millions)
Profits
($ millions)
1 Wal-Mart Stores 408,214 14,335
2 Royal Dutch Shell 285,129 12,518
3 Exxon Mobil 284,650 19,280
4 BP 246,138 16,578
5 Toyota Motor 204,106 2,256
6 Japan Post Holdings 202,196 4,849
7 Sinopec 187,518 5,756
8 State Grid 184,496 -343
9 AXA 175,257 5,012
10 China National Petroleum 165,496 10,272
11 Chevron 163,527 10,483
12 ING Group 163,204 -1,300
13 General Electric 156,779 11,025
14 Total 155,887 11,741
15 Bank of America Corp. 150,450 6,276
16 Volkswagen 146,205 1,334
17 ConocoPhillips 139,515 4,858
18 BNP Paribas 130,708 8,106
19 Assicurazioni Generali 126,012 1,820
20 Allianz 125,999 5,973
21 AT&T 123,018 12,535
22 Carrefour 121,452 454
23 Ford Motor 118,308 2,717
24 ENI 117,235 6,070
25 J.P. Morgan Chase & Co. 115,632 11,728
26 Hewlett-Packard 114,552 7,660
27 E.ON 113,849 11,670
28 Berkshire Hathaway 112,493 8,055
29 GDF Suez 111,069 6,223
30 Daimler 109,700 -3,670
31 Nippon Telegraph & Telephone 109,656 5,302
32 Samsung Electronics 108,927 7,562
33 Citigroup 108,785 -1,606
34 McKesson 108,702 1,263
35 Verizon Communications 107,808 3,651
36 Crédit Agricole 106,538 1,564
37 Banco Santander 106,345 12,430
38 General Motors 104,589
39 HSBC Holdings 103,736 5,834
40 Siemens 103,605 3,097
41 American International Group 103,189 -10,949
42 Lloyds Banking Group 102,967 4,409
43 Cardinal Health 99,613 1,152
44 Nestlé 99,114 9,604
45 CVS Caremark 98,729 3,696
46 Wells Fargo 98,636 12,275
47 Hitachi 96,593 -1,152
48 International Business Machines 95,758 13,425
49 Dexia Group 95,144 1,404
50 Gazprom 94,472 24,556
51 Honda Motor 92,400 2,891
52 Électricité de France 92,204 5,428
53 Aviva 92,140 1,692
54 Petrobras 91,869 15,504
55 Royal Bank of Scotland 91,767 -4,167
56 PDVSA 91,182 1,608
57 Metro 91,152 532
58 Tesco 90,234 3,690
59 Deutsche Telekom 89,794 491
60 Enel 89,329 7,499
61 UnitedHealth Group 87,138 3,822
62 Société Générale 84,157 942
63 Nissan Motor 80,963 456
64 Pemex 80,722 -7,011
65 Panasonic 79,893 -1,114
66 Procter & Gamble 79,697 13,436
67 LG 78,892 1,206
68 Telefónica 78,853 10,808
69 Sony 77,696 -439
70 Kroger 76,733 70
71 Groupe BPCE 76,464 746
72 Prudential 75,010 1,054
73 Munich Re Group 74,764 3,504
74 Statoil 74,000 2,912
75 Nippon Life Insurance 72,051 2,624
76 AmerisourceBergen 71,789 503
77 China Mobile Communications 71,749 11,656
78 Hyundai Motor 71,678 2,330
79 Costco Wholesale 71,422 1,086
80 Vodafone 70,899 13,782
81 BASF 70,461 1,960
82 BMW 70,444 284
83 Zurich Financial Services 70,272 3,215
84 Valero Energy 70,035 -1,982
85 Fiat 69,639 -1,165
86 Deutsche Post 69,427 895
87 Industrial & Commercial Bank of China 69,295 18,832
88 Archer Daniels Midland 69,207 1,707
89 Toshiba 68,731 -213
90 Legal & General Group 68,290 1,346
91 Boeing 68,281 1,312
92 U.S. Postal Service 68,090 -3,794
93 Lukoil 68,025 7,011
94 Peugeot 67,297 -1,614
95 CNP Assurances 66,556 1,396
96 Barclays 66,533 14,648
97 Home Depot 66,176 2,661
98 Target 65,357 2,488
99 ArcelorMittal 65,110 118
100 WellPoint 65,028 4,746
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Inquisições sobre o paradigma. Entrevista com Eduardo Galeano

Inquisiciones sobre el paradigma: Entrevista a Eduardo Galeano (Spanish)

 

Inquisições sobre o paradigma. Entrevista com Eduardo Galeano

 

 

Esta entrevista é o resultado de uma conversa entre dois amigos, ambos escritores uruguaios de espírito crítico e comprometido. Jorge Majfud, professor de literatura latino-americana da LincolnUniversity, conversa com Eduardo Galeano, uma das personalidades mais destacadas da literatura latino-americana. A partir do cotidiano, falam do passado, do presente e do futuro. Um olhar reflexivo para construir outro mundo possível.

A entrevista foi publicada no sítio de Jorge Majfud (majfud.info), em novembro de 2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

I. Passado

Jorge Majfud – Uma visão humanista considera a história como um produto humano, isto é, produto da liberdade de seus indivíduos e dos diversos grupos que a realizaram e interpretaram. Uma visão anti-humanista afirma que, pelo contrário, esses indivíduos e esses grupos são o resultado da própria história, e a sua liberdade é uma ilusão. Se você me permite uma limitação artificial dentro desse possível espectro, onde você estaria?

Eduardo Galeano – Pelo que eu tenho caminhado e ouvido, fico com a impressão de que nós fazemos a história que nos faz. Quando a história que fazemos nos sai deturpada, ou é usurpada pelos poucos que mandam entre nós, dizemos que ela, a história, é a culpada.

Nesta visão, não há lugar para o determinismo materialista ou para algum tipo de fatalismo religioso…

Os fatalismos são confortáveis, permitem-lhe dormir estirado, o destino está escrito nas estrelas, a história caminha por si só, não se preocupe, é preciso aceitar ou aceitar. Os fatalismos mentem, porque, se a vida é uma aventura da liberdade, que alguém venha e me explique se vale a pena viver. Mas cuidado: os iluminados também mentem, os escolhidos que se atribuem o poder de mudar a realidade, tocando-a com sua varinha mágica: e se a realidade não me obedece, ela não me merece.

Se o tempo de revoluções modernas, isto, das revoluções abruptas e violentas já passou, a progressão ou a resistência são a melhor alternativa no nosso tempo?

Como saber quantos mundos existem dentro do mundo, e quantos tempos dentro do tempo? A história caminha com as nossas pernas, mas, às vezes, anda em um passo muito lento e, às vezes, parece quieta. De qualquer forma, quando as mudanças vêm de baixo, do fundo, a curto ou a longo prazo eles encontram seu caminho, o ritmo que querem ou podem. A partir de baixo, digo, do pé, como cantou Zitarrosa. A única coisa que é feita desde cima são os poços.

Em seu último livro «Espelhos» (L&PM, 2009), você faz um esforço ao mesmo tempo criativo e arqueológico sobre um vasto espaço geográfico e temporal. Que períodos da história você acha que levariam o prêmio principal de crueldade e injustiça?

Há muitos favoritos nesse campeonato.

Bem, mais pontual, poderia resumir a crueldade em uma imagem, em uma situação que você viveu?

Eu pensei nisso anos atrás, em um caminhão que atravessava a selva do alto Paraná. Exceto eu, todas as pessoas eram desse mapa. Ninguém falava. Íamos muito apertados na carroceria do caminhão, aos tombos. Ao meu lado, uma mulher muito pobre, com um bebê nos braços. O bebê ardia em febre, se queixava. Ela só disse que precisava de um médico, que em algum lugar tinha que haver um médico. E finalmente chegamos a algum lugar, não sei quantas horas haviam passado, há muito tempo o bebê não se queixava. Ajudei a mulher a descer do caminhão. Quando peguei o bebê, vi que estava morto. O assassino que tinha cometido essa crueldade era todo um sistema de poder, que não ia preso nem viajava em caminhões desengonçados.

Com memórias como essa, deveríamos terminar aqui. Mas o mundo continua girando. Você acha que o passado pré-colombiano sobreviveu tantos anos de colonização e modernização, de modo a definir uma forma latino-americana de ser, de sentir e até de pensar?

Há séculos, os deuses acodem, quem sabe como, a partir do passado americano e da selva africana e de todas as partes. Muitos desses deuses viajam com outros nomes e usam passaportes falsos, porque as suas religiões são chamadas de superstições, e eles continuam sendo condenados à clandestinidade.

II. Presente

Estamos presenciando o fim do capitalismo, de um paradigma baseado no consumismo e no êxito financeiro, ou trata-se simplesmente de uma crise a mais, da qual o próprio sistema, a própria cultura hegemônica sairão fortalecidos?

Às vezes, recebo convites para assistir ao enterro do capitalismo. Bem sabemos, no entanto, que ele viverá mais do que sete vidas, esse sistema privatiza seus ganhos, mas tem a amabilidade de socializar seus prejuízos, e, como se fosse pouco, convence-nos de que isso é filantropia. Em grande medida, o capitalismo se nutre do descrédito de suas alternativas. A palavra socialismo, por exemplo, foi esvaziada de significado pela burocracia que a utilizou em nome do povo e pela socialdemocracia que, em seu nome, modernizou o «look» do capitalismo. Sabemos que esse sistema capitalista está se virando muito bem para sobreviver às catástrofes que desencadeia. Não sabemos, porém, quantas vidas a sua vítima principal, o planeta que habitamos, espremido até a última gota, poderá viver. Para onde nos mudaremos quando o planeta ficar sem água, sem terra, sem ar? A empresa Lunar Internacional já está vendendo lotes na Lua. No fim de 2008, o multibilionário russo Roman Abramovich deu um terreninho para sua noiva.

Talvez ele acredite ser o primeiro homem que deu um pedaço da Lua para uma mulher, o que vem a ser uma espécie de capitalismo romântico. Você acha que, se a China, por exemplo, tivesse uma economia hegemônica, logo se converteria em um novo império, avassalador e colonialista, como qualquer outro império?

Se eu fosse um profeta profissional, morreria de fome. Não acerto nem no futebol, porque disso sim eu sei alguma coisa. Tudo o que posso lhe dizer é o que eu posso ver: aChina está colocando em prática uma exitosa combinação de ditadura, no velho estilo comunista, com uma economia que funciona ao serviço do mercado mundial capitalista. A China pode proporcionar, assim, uma baratíssima mão-de-obra para empresas norte-americanas como o Wal Mart, que proíbe os sindicatos.

A propósito, no último «black Friday», o dia do ano em que, nos Estados Unidos, as grandes cadeias de supermercados vendem a preço de custo, uma avalanche de compradores não pôde esperar as portas de um destes Wal Marts abrirem e passou por cima de um empregado. O homem morreu esmagado… Apesar de todo esse absurdo, podemos pensar que a humanidade está em um estado mais elevado de direitos individuais e de consciência coletiva? Qual é a melhor coisa do nosso tempo?

No século XX, a justiça foi sacrificada em nome da liberdade, e a liberdade foi sacrificada em nome da justiça. Já o nosso tempo é o século XXI, e a melhor coisa que ele tem é o desafio que ele contém: ele nos convida a lutar para ajudar no reencontro da justiça e da liberdade. Elas querem viver bem coladinhas, uma de costas para a outra.

Podemos comparar a aparição da Internet com a revolução que a imprensa produziu no século XV?

Não tenho nem idéia, mas aproveito a ocasião para lembrar que a impressão não nasceu no século XV. Os chineses a tinham inventado dois séculos antes. Na verdade, eram chinesas as três invenções que tornaram possível o Renascimento europeu: a imprensa, a bússola e a pólvora. Não sei se agora a educação melhorou, mas antes aprendíamos uma história universal reduzida à história da Europa. Do Oriente Médio, nada ou quase nada. Nem uma palavra sobre a China, nada sobre a Índia. E da África só sabíamos aquilo que nos ensinava o professor Tarzan, que nunca esteve lá. E do passado norte-americano, do mundo pré-colombiano, alguma coisa folclórica, , algumas quantas penas coloridas… e deu.

Qual é o maior perigo do progresso tecnológico na comunicação?

Na comunicação e em todo o resto. As máquinas não são nenhumas santas, mas não têm a culpa por aquilo que nós fazemos com elas. O maior perigo é que o computador nos programe, assim como o carro nos dirige. Com uma facilidade assombrosa, convertemo-nos em instrumentos de nossos instrumentos.

Como escritor e como leitor, que tipo de leituras ocupam mais o seu tempo hoje?

Eu leio de tudo, começando pelas paredes que acompanham os meus passos pelas ruas das cidades.

A crueldade e a injustiça são o maior provocador da literatura de Eduardo Galeano?

Não. Se fosse assim, eu já teria adoecido de irremediável tristeza. Felizmente, sou perguntador, curioso de nascimento, e ando sempre buscando a terceira margem do rio, esse misterioso lugar onde se juntam o horror e o humor.

Por que você acha que o nosso tempo será lembrado nos séculos por vir?

Será lembrado? Haverá séculos por vir? Deus lhe ouça, e se Deus está surdo, que o Diabo te ouça.

III. Futuro

Eduardo, você acha que o mundo vai se dirigir para um maior equilíbrio de suas frações geográficas, sociais e culturais, ou, pelo contrário, estamos condenados a repetir as mesmas formas do que hoje entendemos como violência física e moral?

Condenados não estamos. O destino é um desafio, embora, à primeira vista, pareça uma maldição.

Uma melhoria do nosso presente está radicada em grande parte no aprofundamento dos valores humanos da tradição europeia ou em uma revalorização de uma origem perdida nos povos «periféricos»?

A tradição europeia não é suficiente. Nós, os americanos, somos filhos de muitas mães. A Europa, sim, mas também existem outras mães. E não só os americanos. Os humanozinhos todos, o mundo inteiro é muito mais do que aquilo que acredita ser. Mas o arco-íris terrestre não brilhará, com toda a sua luz, enquanto ele continuar sendo mutilado pelo racismo, pelo machismo, pelo militarismo, pelo elitismo e por todos esses «ismos» que negam a plenitude da nossa diversidade. E, a propósito, não faz mal esclarecer que os valores humanistas da tradição europeia se desenvolveram enquanto a Europa exterminava índios na América e vendia carne humana na África. John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista de uma empresa negreira.

Sim, algo assim como as democracias imperiais, desde a antiga Atenas até os Estados Unidos. Mas isso significa que a história sempre se repete?

Ela não quer se repetir, ela não gosta disso nem um pouquinho, mas muito frequentemente nós a obrigamos. Para lhe dar um exemplo muito atual, há partidos que chegam ao governo prometendo um programa de esquerda e acabam repetindo o que a direita fazia. Por que não deixam que a direita continue fazendo, já que tem experiência? A história se cansa e a democracia é desacreditada quando somos convidados a escolher entre o mesmo e o mesmo.

Que papel desempenham os intelectuais «não-orgânicos» na sociedade hoje? Continuam sendo, pelo menos em uma minoria, uma força crítica e provocadora?

Eu acho que escrever não é uma paixão inútil. Mas essa generalização, os «intelectuais», orgânicos ou não orgânicos, não se parece muito com o mundo real. Existe de tudo na vinha do Senhor. No meu caso, posso lhe dizer que eu trabalho com palavras, que sou um inútil total e que isso é a única coisa que eu faço mais ou menos bem, e que eu sei, por experiência própria e alheia, que o ato da leitura é uma secreta, e às vezes fecunda, cerimônia de comunhão. Quem lê algo que vale a pena de verdade não o lê impunemente. Ler um livro desses que respiram quando você coloca o ouvido sobre ele não lhe deixa intocado: ele lhe modifica, mesmo que um pouquinho, lhe incorpora alguma coisa, algo que você não sabia ou não imaginava, e lhe convida a buscar, a perguntar. E ainda mais: às vezes, até pode lhe ajudar a descobrir o verdadeiro significado das palavras traídas pelo dicionário do nosso tempo. Que mais uma consciência crítica pode querer?

Mas os escritores contemporâneos tendem a evitar essa palavra, «intelectuais». Por quê?

Eu lhe respondo por mim mesmo, não em nome «dos escritores», que também são uma generalização duvidosa. Eu escrevo querendo dizer e me dizer em uma linguagemsentipensante, palavra certeira que os pescadores da costa colombiana do mar do Caribe me ensinaram. E por isso, justamente por isso, não gosto nada que me chamem de intelectual. Sinto que me convertem assim em uma cabeça sem um corpo, situação demasiadamente incômoda, e que estão divorciando minha razão da emoção. Supõe-se que o intelectual é aquele que é capaz de entender, mas eu prefiro aquele que é capaz de compreender. Culto não é quem acumula mais conhecimentos, porque então não haverá ninguém mais culto do que um computador. Culto é aquele que sabe escutar, escutar os outros e escutar as mil e uma vozes da natureza de que fazemos parte. Para dizer, escuto. Eu escrevo em uma viagem de ida e volta, recolho palavras que devolvo, ditas do meu modo e da minha maneira, ao mundo de onde vêm.

Aliás, qual é a sua técnica narrativa, ou seja, seus hábitos e condutas de escrita?

Não tenho horários. Não me obrigo. Em Santiago de Cuba, um velho tamborero, que tocava como os deuses, me ensinou: «Eu toco – me disse – quando minha mão coça». E eu faço o que ele disse. Se não me coça, eu não escrevo. Nunca assinei um contrato que me coloque prazos para entregar um livro. Na literatura, assim como no futebol, quando o prazer se converte em dever, passa a ser algo muito parecido ao trabalho escravo. Os livros me escrevem, crescem dentro de mim, e a cada noite vou dormir agradecendo-os, porque permitem que eu acredite que o autor sou eu. E, dito isso, esclareço que eu escrevo cada página muitas vezes, que eu rasuro, suprimo, reescrevo, quebro, volto a começar, e tudo isso faz parte da grande alegria de sentir que o que eu digo é parecido, e às vezes é muito parecido, com aquilo que as minhas páginas querem dizer.

Seus livros, depois as ditaduras militares do Uruguai e da Argentina, depois do exílio, mudam de estilo. Ou talvez aprofundam uma característica: seu olhar continua sendo o do rebelde conformista, mas a sua voz se torna mais lírica. Se bem me lembro, foi Jean-Paul Sartre que disse que a técnica escritor se refere à sua concepção do mundo. Como você definiria o seu estilo? Ele reflete a sua percepção do mundo, ou talvez suas aspirações sobre ele, ou o estilo é algo acidental, uma forma de fazer as coisas que provém de uma história da estética, de uma influência da adolescência?

Meu estilo é o resultado de muitos anos de escrever e apagar. Juan Rulfo me dizia isso, mostrando um lápis daqueles que quase não se veem agora: «Eu escrevo com a ponta da frente, mas escrevo mais com a parte de trás, onde está a borracha». Eu faço isso, ou tento fazer. Tento dizer cada vez mais com cada vez menos.

Um elemento comum da literatura do compromisso, das utopias revolucionárias até os anos 60, os anos antes das ditaduras na América do Sul, parece ser a alegria. Como exemplo ilustrativo, poderíamos fazer uma exposição de fotografias dos rostos mal-humorados dos Pinochet, por um lado, e dos rostos sorridentes dos Che Guevara, por outro. Existe uma ligação entre a «estética da tristeza» da literatura do século XX e as forças conservadoras da sociedade? Em que medida a alegria, o epicurismo do qual falava Américo Vespúcio referindo-se a uma certa imagem dos americanos nativos, é subversiva?

Volto à costa colombiana, e lhe conto que, lá, o pior insulto é «amargao». Não podem lhe dizer nada mais grave. E eles têm razão, porque, no fim das contas, não há nada no mundo que não mereça ser rido. Se a literatura de denúncia não é, ao mesmo tempo, uma literatura da celebração, ela se afasta da vida viva e faz seus leitores dormir. Supõe-se que seus leitores devem arder de indignação, mas eles caem no sono. Muitas vezes, a literatura que diz se dirigir ao povo só se dirige aos convencidos. Sem risco nenhum, parece-se mais à masturbação do que ao ato de amor, mesmo que, como me disseram, o ato de amor é melhor, porque é possível conhecer mais pessoas. A contradição move a história, e a literatura que realmente estimula a energia de mudança nos ajuda a adivinhar os sóis secretos que cada noite esconde, essa façanha humana de rir contra toda evidência. A herança judaico-cristã, que tanto elogia a dor, não ajuda muito. Se bem me lembro, em toda a Bíblia não há nenhuma risada. O mundo é um vale de lágrimas, os que mais sofrem são os eleitos para subir ao Céu.

Como você imagina o mundo daqui a 50 anos?

Com a idade que tenho, imagino que dentro de 50 anos eu já não vou estar. Como você vê, tenho uma imaginação prodigiosa.

Onetti já disse que ele escrevia para si próprio. Galeano escreveria se tivesse a pouca sorte de ser o único sobrevivente de uma catástrofe global?

O único sobrevivente? Ai! Eu morreria de tédio. Talvez escreveria da mesma forma, porque tenho o vício, mas escrever para ninguém é pior do que dançar com a irmã. Onetti ficou bravo comigo quando, uma noite, cometi uma insolência juvenil. Ele me disse isso, que ele escrevia para ele, e eu lhe propus que levaria ao correio essas cartas para Juan Carlos Onetti, Rua Gonzalo Ramirez, Montevidéu etc., etc. Ele se zangou. Zangou-se porque mentia, e sabia disso. Quem publica o que escreve, escreve para os outros.

O que você faria de diferente se tivesse a experiência e a oportunidade de fazê-lo de novo? De que Eduardo Galeano se arrepende hoje?

Não me arrependo de nada. Eu também sou a soma de todas as vezes em que meti a pata.

 

 

 

Crisis XVI

Crisis XVI

Jueves 16 de julio. Dow Jones: 8.711

Terra Bella, California. 9: 15 PM

Lupita recoge el puñado de frutillas, pero las frutillas vuelven a resbalar de su mano. Por culpa de esta mano torpe, se queja Lupita, la pobre espalda ya no resiste más. La mano sucia, agrietada, casi no tiene movimientos, casi no duele. Pero la espalda y el vientre sí. Lupe intenta recoger las frutillas otra vez pero las frutillas se alejan como en un túnel. En media hora termina su jornada. Son ocho horas de reverencias sobre la tierra, bajo el sol que da vida a las frutillas.

Pero la media hora se estira como el túnel que aleja las cinco frutillas de su mano.

Dicen que en ningún lugar se producen frutillas tan grandes y rojas, aunque no saben como las de allá, decía Lupita. En el Wal Mart huelen mejor, decía José, por el aire acondicionado. No son frutillas, son frutotas, limpiecitas y ordenaditas en cajitas tranparentes.

Ayer fue igual. 110 grados desde el mediodía hasta las cinco de la tarde. A la sombra, dice Ramón, 110 grados a la sombra. Cuánto es eso, José? Como 40 o 45 grados de allá. Luego bajó a 105 y dicen que al terminar la chamba había 95 y el sol pegaba de abajo. Lo bueno es que el sol se mueve y no te quema siempre del mismo lado. A veces es como si pegara de abajo, decía Lupita. Y cuando pega de abajo es como si una cayera en un túnel oscuro y el sol es el final.

José se reía. Las cosas que una mujer se imagina cuando es tan jovencita. Ella le había alegrado la chamba, desde que llegó hacía dos semanas. José siempre se las arreglaba para trabajar en una línea cerca y ella se sentía más segura cuando lo veía aproximándose con sus manos que eran como máquinas de juntar frutillas. La máquina de piscar, le decían. Pero cuando pasaba cerca de Lupita era como si fuese más despacio, como un nadador que desacelera para descansar.

En una de esas lo perdió de vista. Lupita rogaba a Dios que corriera la última media hora, que llegara el final, que el José dijera “al fin terminamos por hoy”, aunque Lupe sabía que su canasta no se había llenado tan de prisa como ayer y que seguro le estaban poniendo un ojo por bajo rendimiento.

Pero las frutillas, grandes como cinco corazones palpitantes, seguían cayendo por las escaleras del templo y el sol no aflojaba. Hasta que su espalda se quebró y su cara fue a dar contra la tierra seca y un olor a sangre y frutilla, espeso como la sal del mar, borró el sol al final del túnel. Un río caliente corrió por sus piernas hasta regar la madre tierra que a esa hora era como un dragón sediento. “Miguelito”, fue lo último que dijo la Lupe, casi gritando pero sin poder gritar, dijo José.

Michael, dijo la máquina de piscar que no ha vuelto hoy, era el crío que la chica nueva llevaba en sus entrañas. Dicen que ahora andan buscando a quién entregarle la compensación por la finadita.

Jorge Majfud

Milenio (Mexico)